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Reflexões sobre o uso do Google Classroom (Parte 1)


Apresentação

A tecnologia tem sido cada vez mais incorporada em esferas sociais tradicionais e a velocidade na qual isto está acontecendo é vertiginosa. Nas últimas décadas a educação tem sido prudente e cautelosa na incorporação da tecnologia em sala de aula, refletindo sistematicamente sobre potenciais, sobre impactos benéficos e sobre impactos maléficos.

Cada nova ferramenta que surgiu nestes últimos tempos exige de nós profissionais da educação momentos de experiências controladas antes de incorporar ao trabalho rotineiro, visando impactar na formação de forma consciente. Assim, neste espírito cauteloso, o Google Classroom (Google Sala de Aula) já estava presente em muitas práticas docentes, inclusive deste que vos escreve. A partir de 2020 com a rápida proliferação e descontrole da pandemia as escolas necessitam restringir suas atuações e em determinados momentos de exclusiva interação on-line para respeitar o distanciamento social exigido para controle da pandemia. Nós, professores (as), precisamos interromper as nossas práticas rotineiras, necessitamos “mergulhar” nas ferramentas tecnológicas para não ficar ausentes das vidas de nossos estudantes.

Foi neste contexto que produzi uma série de experiências que compartilho aqui, especialmente focando no uso do Google Classroom. Infelizmente esta experiência não foi uniforme e constante, uma vez que a Secretaria da Educação do Estado de São Paulo nos colocou diante de condições multifacetadas, às vezes de forma gradual e outras de forma abrupta.

Diante das mudanças constantes foi possível testar a flexibilidade da ferramenta tecnológica Google Classroom para enfrentar diferentes contextos - ensino remoto, ensino híbrido, ensino presencial, além de todas as gradações entre as categorias.

O Google Classroom

O Google Classroom é uma ferramenta desenvolvida pela plataforma Google que permite a criação de salas de aula virtuais cuja ideia central é unificar em um mesmo ambiente todos os recursos de ensino e aprendizagem.

Talvez seja pertinente reafirmar que o uso desta plataforma se justifica pela facilidade de acesso, a possibilidade de organização de trabalho colaborativo e a ampla possibilidade de acessar em diferentes dispositivos (tais como celular, tablet, notebook, desktop, etc).

De modo geral, cada sala de aula criada nesta plataforma gera uma página de acesso restrito, para ter controle discente, onde estão disponíveis uma subdivisão de quatro seções. O primeiro é o Mural, que aparece como primeira página, em segundo uma área de organização de Atividades, a terceira onde encontramos informações sobre os alunos (as/es) e professores (as) na sala chamada Pessoas e, por fim, uma seção de organização de Notas.

O mural como instrumento de organização e comunicação cronológica

Sem dúvida uma das grandes complexidades que a incorporação da tecnologia nos processos de ensino e aprendizagem estão em torno dos tempos de realização das situações, nos tempos das experiências subjetivas, nos tempos de experiência coletiva e nos tempos relacionados para a realização da formação planejada.

Diante de um contexto de crise social que teve como principal impacto o distanciamento para criar uma dificuldade física para a proliferação do vírus, o mundo virtual aparecia como uma enorme possibilidade para superar as dificuldades impostas para a realização da rotina comum, utilizando os instrumentos como alternativas para realizar as práticas anteriores apenas com o uso das tecnologias. 
Como seria possível manter uma experiência tradicional de formas não tradicionais? Podemos dizer que esta foi a primeira grande questão que enfrentamos nesta pandemia.

Para conseguir realizar algo parecido com a rotina da escola, o trabalho com o instrumento Google Classroom pareceu um caminho direto. O aplicativo permite que se crie salas de aula, para cada turma, o que alinha de algum modo a experiência virtual com a prática tradicional do ambiente escolar. Tal como pode ser observada na imagem abaixo:

[Imagem de visão das disposições das salas de aula do Professor Ricardo para o ano de 2021]

O uso destas salas de aula permitem ao professor (a) construir uma relação com os discentes, comunicando instrumentos de aprendizagem, apresentar e compartilhar informações, expor ideias, criar espaços de debates de ideias, propor reflexões orientadas, passar recados do cotidiano, chamar e divulgar a aula síncrona, etc. Estes recursos que fazem parte do chamado “MURAL” do Google Classroom permitiu de alguma maneira a manutenção destas estruturas, espaços, ênfases e tempos.

No mural as informações são publicadas em sequência cronológica, ficando sempre em primeiro lugar, no topo da página a mais recente, ou seja, os comunicados ficavam sempre atualizados em cada entrada discente.

Além da organização cronológica, o uso de postagens que compõem o mural permitiu que se valoriza-se a linguagem escrita preocupada em minimizar conflitos interpretativos, em maximizar a elucidação através de recursos linguísticos verbais e não verbais e permitiu o anexo nas mensagens de outras naturezas - como áudios, vídeos, imagens, etc. Cabiam, ainda, arquivos e espaços para construção colaborativa e possibilidades de incorporar todos os demais recursos disponíveis na internet que estão ao alcance de nosso acesso.

Particularmente no exercício de minha atuação, pareceu-me importante ser o mais procedimental e explicativo que a linguagem escrita me permitia para deixar claro os objetivos e os resultados buscados em cada situação, tal como focamos na oralidade de sala de aula tradicional.

Todo este engajamento visava alcançar o objetivo de conscientizar os alunos (as/es) sobre o que fazer, como fazer e porquê fazer, fazendo-os sentirem com a nossa presença mesmo que de forma indireta ou mediada pela tecnologia.

Quase sempre era preciso considerar que cada aluno (a/e) iria acessar as comunicações de modos muito distintos, de acordo com os seus recursos e, por isso, deveria engajar todo o esforço do trabalho para que todos reconhecessem quem estava falando com eles (as/es) diretamente, mesmo sabendo que isto não seria plenamente possível.

    
[Imagens extraídas como exemplo de uma sala do ano de 2021 do professor Ricardo]

A organização bimestral das situações de ensino e aprendizagem através de roteiros de estudo

Um dos grandes desafios para que os alunos (as/es) participassem de modo consciente era deixar nítido que existia uma sequência que deveria ser seguida para que houvesse uma progressão mediada, uma sequência didática, ou uma trilha de aprendizagem. A sequência é importante para que fossem contempladas e estruturadas as habilidades que estavam no objetivo de cada ocasião.

Sendo assim, pareceu importante sempre elucidar de modo sistemático as etapas que deveriam ser cumpridas para o melhor aproveitamento das situações que planejei para nossos alunos (as/es).

Abaixo é possível observar um exemplo realizado no primeiro bimestre de como organizei as situações de aprendizagem:
[Imagem ilustrativa do Google Classroom, recortado para elucidar a sequência de um bimestre]

Ainda, como não bastava apenas manter uma estrutura de disposição dos roteiros em ordem, parecia relevante expor sempre as explicações e procedimentos com o mesmo tipo de organização sequencial, valorizando o cumprimento de todas as etapas para a realização plena de todas as potencialidades oferecidas neste recurso.

Para cada Roteiro existia um plano de realização, passo a passo, onde os alunos (as/es) podem visualizar o que se espera de suas ações que promovam aprendizagem. Abaixo é possível verificar o modo pelos quais estruturei estas explicações inerentes a cada roteiro:
 
[Imagem ilustrativa de orientação procedimental para realizar o Roteiro de Estudo]

Interações com alunos (as/es)

Na seção Pessoas do Google Classroom é possível notar de forma organizada os responsáveis pela turma e os alunos (as/es) que estão dentro de sala. É importante ressaltar que esta ferramenta possibilita o envio de mensagens individualizadas. Como cada pessoa na sala está cadastrada através de seu e-mail, quando selecionamos dentro desta plataforma enviar mensagem para aluno (a/e), estamos enviando e-mail exclusivamente para o selecionado.

Assim, através desta possibilidade foram possíveis diálogos para sondar ausências, para sondar dificuldades, para enviar comunicados personalizados e criar uma relação mais humanizadas, uma vez que retira a dimensão "mecânica" de outras partes da plataforma.

[Imagem ilustrativa do campo Pessoas no Classroom]


Os registros de notas

Neste ambiente ficam disponíveis todas as tarefas entregues pelos alunos (as/es), as entregas com atraso, as notas atribuídas pelo docente e resultados que representam indícios importantes para o planejamento docente.

Tendo em vista que o processo de avaliação serve, de modo geral, para o professor mapear o impacto que as situações que está propondo produzem. Ainda, é possível intervir em casos pontuais, interagindo e buscando auxiliar os alunos (as/es) que necessitam de alguma atenção especial.

Além dos aspectos pedagógicos, é preciso salientar a importância desta ferramenta como registro dos processos de ensino e aprendizagem propostos, tal registro permite a difusão e multiplicação para deixar o processo transparente e atuar de forma simplificada para articular ações enquanto unidade escolar.

[Imagem de representação do espaço de notas do Classroom].


Considerações finais

Neste texto procurei elencar as estruturas gerais de funcionamento e uso da plataforma Google Classroom na dinâmica do ano letivo de 2021 na E.E. Alberto Torres, na disciplina de Filosofia, sob a minha responsabilidade.

Este contexto foi um desafio enorme imposto pela pandemia, mas, com o auxílio dos colegas enfrentamos e construímos caminhos para buscar soluções para as demandas daqui. Além disso, muitas superações de formação foram necessárias, uma vez que diante da enxurrada de ferramentas, precisamos conhecer para selecionar os melhores recursos.

Por fim, espero que este texto possa ter sido útil para aqueles (as) que ainda não utilizaram esta plataforma, ou que tiveram usos restritos. Através desta exposição, parece-me que aos colegas ficam ao menos disponíveis possibilidades de reflexões e potencialidades deste recurso virtual para situações de formação básica.

Atenciosamente.

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