Toda pessoa que já pisou em uma sala de aula em algum
momento, de forma mais ou menos consciente, precisou refletir sobre uma questão
fundamental: educação, para quem?
Esta pergunta se revela especialmente importante porque em
muitos sentidos nos faz pensar sobre os objetivos que almejamos alcançar. Vamos
juntos pensar sobre isso?
Seja sincero, quando você, professor, professora, ou
especialista que entra em algum lugar para ensinar, sempre entra na sala de
aula pensando que você detém alguma informação, ideia, raciocínio ou
conhecimento que pode ser útil para os outros e por isso tais pessoas deveriam prestar
atenção em você.
Quais seriam essas informações? Não poderiam ser encontradas
de outras formas? Por que dependem de você para chegar ao público? Que ideia é
essa? Elas não poderiam ser desenvolvidas sem você? Que raciocínios são estes?
Eles não poderiam ser alcançados sem sua instrução? Que conhecimentos são
esses? Eles não poderiam ser construídos sem a sua docência?
De algum modo sabemos, nós que ensinamos algo, que o nosso
ofício é especial, não porque é uma informação que só nós temos acesso, não
porque nós temos ideias que são exclusivamente nossas e precisam chegar aos
outros. Não porque possuímos modos de raciocínios tão sofisticados que só nós
podemos ensinar e, definitivamente, não é porque possuímos conhecimentos que só
podem ser construídos com o nosso auxílio.
Sendo assim, precisamos, todos nós que pretendemos ou
exercemos a docência, ter com alguma objetividade diante de nossos olhos, para
quem estamos falando. Se estamos apresentando uma informação, é porque de algum
modo as pessoas que nos dirigimos não tiveram acesso a tal informação. Por que
não tiveram acesso? Agora esta se torna a pergunta mais importante para montar
o nosso discurso, afinal, somente assim poderemos planejar a forma adequada de
apresentar tal informação e a sua utilidade, serventia ou pertinência para quem
dirigimos o nosso empenho.
Caso estejamos apresentando uma ideia, precisamos ter muita
clareza do porquê as pessoas que estamos apresentando não pensaram de tal
forma. Elas puderam fazer parte da tradição desta área que dominamos? Ou será,
que elas estão tendo acesso a tradição de uma área de conhecimento através de
nossas aulas? Ou ainda, será que os universos culturais destas pessoas estão em
relação direta com o objeto que estamos apresentando? E se não estiverem? Por que
não estão?
Ainda temos o caso da condição de apresentarmos raciocínios
e conhecimentos. O que torna ou tornou a nossa condição especial para
apresentar um raciocínio como válido ou um conhecimento como verdadeiro? Ou
dito de outra forma, o que legitíma que nós nos posicionemos diante de um
contingente de pessoas para ensinar algo?
Sabemos que neste texto estamos levantando problemas, no
entanto, somente perguntando a cada um de nós que se coloca na posição de “ensinantes”
podemos compreender para quem estamos lecionando. Somente compreendendo para
quem falamos, como falamos e porque falamos, é que poderemos desenvolver um discurso
adequado para atingir os nossos objetivos.
É óbvio que somente esta esfera de problematização não é o
bastante para nos formar sobre a pergunta: para quem ensinamos? A problematização
é um primeiro passo para que possamos construir maior consciência, maior
deliberação e maior nível epistêmico para enfrentar esta pergunta – que parece
muito simples, mas diz muito sobre nós, nossa sociedade e sobre as imagens que
fazemos de nós mesmos e dos outros que se relacionam conosco.
Em breve traremos mais reflexões.
Atenciosamente.
Prof. Ricardo de Jesus Lopes
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Adorei....e muito importante um educador com seus ensinamentos.....sem ele as pessoas não poderiam aprender.....Parabéns
ResponderExcluirCélia........te admiro
Que alegria percorrer essa reflexão contigo Ricardo.
ResponderExcluirFrequentemente no exercício da docência me deparava com a questão do público que pretendia atingir. E tinha a angústia de tentar fazer algo significativo para o grupo que propunha minha aula. Essa inquietação é sem dúvida o combustível do profissional comprometido, tentar fazer do seu ensino algo especial, personalizado, que responda a necessidade e realidade do aluno e respeite nossa formação. Bom quadripé que fermenta a reflexão.
Obrigado pela provação.
Salve, Ricardo !! Ótimas questões ! O texto apontar para a importância ainda do professor para problematização do conhecimento científico. Outro ponto muito relevante e o olhar freiriano, o que ensino e para quem ? Parabéns, camarada !!
ResponderExcluirDiei !!