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Sinais de nosso tempo: transtorno de ansiedade e depressão



Saudações estimados leitores (as).


Talvez uma grande contribuição que podemos oferecer para as pessoas interessadas em ler o mundo que vivem é oferecer ferramentas para que elas possam compreender os SINAIS DE NOSSO TEMPO, ou seja, tentar expor de modo explícito e numa linguagem simples as principais características de nosso modo de existência. Nesta ocasião a proposta é deliberar um pouco sobre “problemas psicológicos”, especialmente o transtorno de ansiedade e a depressão clínica.


Os problemas psicológicos se tornaram muito comuns e evidentes, especialmente no modo de tratar as questões desta ordem na sociedade atual, e, podem afetar pessoas de todas as idades, gêneros e classes sociais, isto porque a dinâmica de nossa vida tem impelido a uma série de enfrentamentos individuais para demandas amplas, desafiadoras, sistêmicas e estruturais e diante destas circunstâncias os sujeitos acabam nem sempre preparados para o exercício de sua vida, o que parece estar conduzindo o desenvolvimento de “transtornos”, “patologias” ou “doenças”.


Alguns dos problemas psicológicos mais comuns em nossos tempos são: o transtorno de ansiedade, a depressão clínica, anorexia nervosa, transtorno obsessivo-compulsivo, transtorno bipolar, esquizofrenia, transtorno da personalidade borderline e o transtorno dismórfico corporal. Não que tais fenômenos sejam exclusivos de nossos tempos, mas, em nossos tempos lidamos com eles de uma forma especialmente pensada a luz da medicina, da biologia, da sociologia e da psicologia. Deste modo, colocamos no centro de nossa compreensão um jeito específico de tratar tais assuntos. Neste texto, focaremos especialmente no transtorno de ansiedade e na depressão clínica, para não estender demais o texto e para lidar com responsabilidade com os temas, mas, acima de tudo, gostaríamos de propor reflexões que permitam entender de forma crítica os nossos dias.


O transtorno de ansiedade tem se mostrado o sinal psicológico mais comum e afeta milhões de pessoas no Brasil e no mundo. A identificação deste transtorno se dá através dos sintomas que incluem: preocupação excessiva, agitação, inquietação, fadiga, músculos tensos, dificuldades para dormir e ataques de pânico. A descrição dos sintomas feitas anteriormente não possui a finalidade de apoiar um diagnóstico, ao contrário, busque sempre o profissional adequado para isso. O objetivo de expor aqui os sintomas é proporcionar uma reflexão sobre quais as condições que têm impelido as pessoas a desenvolver tais reações. 


O que tem preocupado excessivamente as pessoas? Seriam preocupações de cunho individual ou fruto de fenômenos sociais como conseguir ou manter uma alimentação adequada, alcançar aspectos básicos da vida com dignidade? Ter a segurança da moradia, do emprego, do apoio familiar, do apoio social? A agitação ou inquietação é uma prática valorizada em nossa sociedade? Será que não estamos educando em demasia para a “proatividade”? Ou será que as pessoas que se limitam a desenvolver poucas atividades e desenvolver uma vida pacata são alvo das críticas e do julgamento social negativo? A tenção, a fadiga, os ataques de pânico são proporcionados pelo ambiente que estamos vivendo ou exclusivamente pelo sujeito? Em suma, nas linhas anteriores, as perguntas tiveram a função de expor que o modelo de vida social pode direcionar o sujeito para o desenvolvimento de aspectos ansiosos e talvez levando ao transtorno desta ordem.


O transtorno de ansiedade tem sido tratado como um problema psicológico que pode ser tratado com Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), medicação (prescrita por profissional especializado) ou uma combinação dos dois. Para saber mais sobre estes fenômenos de tratamento busque sempre o apoio de um profissional adequado. Mas, talvez não precisemos, enquanto sociedade, pensar e repensar sobre o modo como conduzimos nossa vida coletiva? Nosso modo de trabalhar? Ou os modos como vivemos nos centros urbanos e nas cidades interioranas?


Já a depressão clínica é um outro fenômeno tratado como problema psicológico que afeta milhões de pessoas ao redor do mundo. Os sintomas associados a depressão são: uma forma de tristeza persistente, perda de interesse em atividades que antes eram agradáveis, fadiga, alterações no apetite, alterações no sono e pensamentos destrutivos que em última instância chegam ao suicídio.


Assim como no transtorno de ansiedade, a nossa finalidade aqui não é apoiar diagnósticos, é proporcionar a reflexão sobre os temas. Será que o desenvolvimento de quadros clínicos de depressão não está associado ao modo como vivemos coletivamente? Será que nossa sociedade estimula sistematicamente a busca pelo sucesso e por padrões de bem-sucedido que impactam os sujeitos pela incapacidade de alcançar? Será que a perda de interesse pelas coisas ou atividades não está relacionado ao fato de vivermos uma espécie de lógica de consumo onde estamos sempre em busca da última versão dos produtos? Ou, ainda, será que alterações de sono ou alimentares são advindas de maneiras pelas quais as pessoas precisam organizar as suas vidas individuais para atender expectativas impostas pela lógica do trabalho, pela lógica das redes sociais e de formas culturais atualmente dominantes?


O tratamento para a chamada depressão clínica pode incluir a Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), medicação (prescrita por profissional adequado) ou a combinação dos dois. Para saber mais sobre estes fenômenos de tratamento busque sempre o apoio de um profissional adequado. Mas, novamente, talvez não precisemos, enquanto sociedade, pensar e repensar sobre o modo como conduzimos nossa vida coletiva? Nosso modo de trabalhar? Ou os modos como vivemos nos centros urbanos e nas cidades interioranas?


Por fim, o que podemos extrair da existência destes dois “sintomas”? Os sinais do transtorno de ansiedade e da depressão clínica não seria a manifestação que o indivíduo está precisando lidar só com as dinâmicas gerais da existência humana? Somos seres solitários? Precisamos lidar de forma solitária com a existência?


Espero que você tenha gostado e, caso possa, ajude no desenvolvimento desta reflexão comentando, criticando ou compartilhando este texto.


Desde já, agradeço sua generosidade.

Atenciosamente

Comentários

  1. O texto impacta, pois o leitor, falo por mim, me identifico, as pessoas pelas inúmeras informações no tempo atual, são atingidas por padrões de sucesso,
    e inúmeros outros padrões de comportamento, acredito que, pela autenticidade de cada ser como indivíduo torna-se grande a dificuldade de criar dentro esse sentimento de pertencimento a um grupo social, a vontade de se sentir pertencente a um meio ocasione tipos de comportamentos auto-destruticos e/ou que causam algum tipo de dissociação com a realidade, o que causa problemas comportamentais, problemas na psique humana, sinto que a cada dia as pessoas interagem menos entre si, cada vez nos sentimos mais sozinhos e sem apoio, são tantos padrões em inúmeros quesitos, acredito que aconteça algo em nossa psique que nos como mecanismo de defesa, acaba que nos afastamos do meio social e isso é o que vejo ao menos no meio social em que estou, obrigado pelo texto professor, sempre bom refletir contigo.

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    1. Agradeço sinceramente por sua leitura e pelo elegante e erudito comentário. Fico extremamente feliz que meus textos possam suscitar reflexões como as suas. Atenciosamente.

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  2. Cirúrgico, meu caro!

    É possível que o ser-produtivo (o qual somos impelidos a ser) não nos permita alcançar uma certa calmaria, que se dá no movente, para nos conectarmos com o que nos potencializa enquanto ser-humano, frente à essa perspectiva.
    A violência imbuída nas demandas e narrativas que permeiam os nossos dias nos distanciam paulatinamente das possibilidades do ser-alegre, tanto no âmbito coletivo quanto em nossa busca por solitude. Assim, ouso dizer que ser-para-o-outro tem nos ferido e aprisionado demais e, a cada dia, essa condição nos têm transtornado, bem como nos anuncia problemáticas materiais e existenciais transfiguradas em razão dos "novos tempos".
    Como superá-las?
    Nesse momento, sei não!
    Só sei que a época teima em nos afundar "numa bad" e lançar a culpa pela inadequação às exigências perversas desse tempo naqueles que, ainda adoecidos, buscam brechas para resistir!

    Grata por disponibilizar esse texto, pois suas provocações, sabiamente, nos oportuniza refletir sobre esse caráter, duro, que se revela como construção da realidade que habitamos.

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    1. Muito obrigado por sua leitura e por sua exímia forma de comentar propondo novos referenciais. Fico muito feliz que meu texto permita reflexões como a que você propõe. Também não sei ao certo como superar nossos tempos, mas, podemos buscar os indícios de rumos desejáveis. Atenciosamente.

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  3. Salve, Ricardo. Como sempre ousado na escrita. Belo texto. Admiro muito como vc se desafia a transitar por diferentes temas e com muita maestria.

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  4. Muito obrigado por sua leitura e por seu comentário. Fico feliz por seu reconhecimento. Espero que contiue acompanhando os textos. Atenciosamente.

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