A Apologia de Sócrates, escrita por Platão, é uma obra que atravessa o tempo, ecoando a voz serena do filósofo ateniense que diante da acusação de impiedade e corrupção da juventude manteve a sua fidelidade ao que surgia ali e que hoje conhecemos como Filosofia.
O texto se torna um marco na história do pensamento ocidental e talvez transcenda este "lado" do globo, não por registrar a defesa de Sócrates em seu julgamento, mas também por apresentar um retrato singular da filosofia socrática e de seu impacto sobre a sociedade ateniense, fazendo da filosofia uma tradição humana única que flerta com a eternidade.
A obra se inicia com uma descrição de Sócrates como um homem de caráter humilde em comparação com seus acusadores e dedicado à busca da verdade, ou no mínimo como alguém que utilizava a figura humilde como recurso retórico convergente com o sistema de ideias que promovia. Ele não se apresentou como um sábio, mas como um questionador incansável da sabedoria alheia, revelando a ignorância dos que se acreditavam sábios apenas porque estes não resistiam as perguntas impostas. Em sua defesa, ele argumenta que sua missão não é corromper os jovens, mas sim despertá-los para a busca da virtude e do conhecimento conhecimento verdadeiro. O conhecimento verdadeiro não poderia ser encansado através da aceitação da autoridade de quem profere o discurso, mas a verdade se manifesta através do respeito pela própria ordem da razão.
Sócrates expõe a razão de sua incessante busca pela sabedoria: uma voz interior, um "demônio", que o guia e o impede de se envolver em atividades que julga indignas. Este "demônio" não possui um sentido cristão, uma vez que estamos lendo um texto de alguns séculos antes do nascimento de cristo e o sistema de credo espiritual ateniense é outro - é o sistema que chamamos de modo vulgar de mitologia grega.
Sócrates se recusa a seguir as convenções sociais e as leis que considera injustas, priorizando a busca pela justiça e pela verdade. Mas, vale o destaque, não se trata de uma recusa por capricho da opinião pessoal, ao contrário, trata-se de uma recusa por promover a razão como instrumento e critério. Não se trata do que Sócrates achava certo ou errado, mas sim do que a razão demonstrou ter consistência e veracidade ou não.
O texto retrata de modo brilhante e didático a ironia socrática, uma ferramenta fundamental em seu método de questionamento, um instrumento simultaneamente retórico e epistêmico. Ele utiliza a ironia para desmascarar a falsa sabedoria, expondo as contradições e a superficialidade dos discursos dos que se acreditam sábios. Essa técnica se torna um instrumento para estimular o raciocínio e o autoconhecimento.
A Apologia, também, demonstra a coragem e a serenidade de Sócrates diante da morte. Ele rejeita a covardia e a busca por salvação a qualquer custo, preferindo morrer defendendo seus princípios e sua busca pela verdade do que se acovardar e aceitar o sistema de mentiras que vigorava com naturalidade. Segundo Sócrates a morte não representa um fim, mas uma transição para outro estado de existência, onde ele poderá continuar sua busca pela sabedoria.
A obra também revela a crítica de Sócrates à política ateniense. Ele observa a corrupção do sistema político e a influência do dinheiro e do poder sobre as decisões. Ele prefere o caminho da sabedoria e da virtude, buscando a transformação individual em vez de se envolver naquela vida pública. Esta escolha o levou ao tribunal, foi justamente por buscar sair do sistema de ideias falsas que estas passaram a ser fragilizadas no sentido público e Sócrates passa a representar um risco para a sociedade ateniense.
Podemos definir que A Apologia de Sócrates é um texto que nos convida à reflexão sobre a natureza da verdade, a importância da busca pelo conhecimento e a necessidade de vivermos de acordo com os princípios da razão. A obra se torna um poderoso testemunho da importância da liberdade de pensamento, da coragem de defender a verdade e da necessidade de buscar a justiça em todas as esferas da vida e, acima de tudo, talvez seja a maior representação ou a mais radical representação de fidelidade à razão acima de qualquer outra dimensão humana, aquilo que se tornou a máxima da tradição filosófica ao longo de sua ainda viva história e que permitiu a esta tradição cobiçar a eternidade.
A Apologia de Sócrates é uma obra rica em lições para todas as épocas. Ela nos incentiva a questionar as verdades estabelecidas, a buscar a sabedoria e a viver com integridade, mesmo diante de desafios e adversidades. A obra se torna um farol de esperança para aqueles que buscam a verdade, a justiça e a virtude em um mundo muitas vezes dominado pela ignorância, pela covardia e pela injustiça.
Esta é só uma resenha, nada substitui a leitura desta obra clássica para a história das ideias e da tradição filosófica. Por isso, caso possa, dedique um tempo de sua vida nestas poucas páginas e grandes ideias.
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Respeitosamente.
Professor Ricardo
Celia Regina......Adorei o texto.......muito intere
ResponderExcluirssante .....aprendi muito sobre Sócrates......Parabéns....
Muito obrigado pelo apoio de sempre!
ExcluirExcelente texto!!!
ResponderExcluir"Apologia de Sócrates é uma obra rica em lições para todas as épocas. Ela nos incentiva a questionar as verdades estabelecidas, a buscar a sabedoria e a viver com integridade, mesmo diante de desafios e adversidades. A obra se torna um farol de esperança para aqueles que buscam a verdade, a justiça e a virtude em um mundo muitas vezes dominado pela ignorância, pela covardia e pela injustiça."
Obrigada, professor.
Sou eu quem agradece a sua leitura 📚 Obrigado
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